domingo, dezembro 28, 2008

NATAL UP-TO-DATE

Em vez da consoada há um baile de máscaras
Na filial do Banco erigiu-se um Presépio
Todos estes pastores são jovens tecnocratas
que usarão dominó já na próxima década
Chega o rei do petróleo a fingir de Rei Mago
Chega o rei do barulho e conserva-se mudo
enquanto se não sabe ao certo o resultado
dos que vêm sondar a reacção do público
Nas palhas do curral ocultam-se microfones
O lajedo em redor é de pedras da lua
Rainhas de beleza hão-de vir de helicóptero
e é provável até que se apresentem nuas
Eis que surge do céu a estrela prometida
Mas é para apontar mais um supermercado
onde se vende pão já transformado em cinza
para que o ritual seja muito mais rápido
Assim a noite passa e passa tão depressa
que a meia-noite em vós nem se demora um pouco
Só Jesus no entanto é que não comparece
Só Jesus afinal não quer nada convosco

David Mourão-Ferreira

domingo, dezembro 14, 2008

AÇORES POSITIVOS

Qualquer concidadão que queira resistir à onda depressiva que, diariamente, nos invade nos jornais, rádios e televisões vê a sua luta consumir-lhe, não só, a maioria das energias disponíveis. Não falamos apenas da capacidade de filtragem entre o que é notícia e diagnóstico e o que é especulação ou demagogia, mas também na preocupação de qualquer cidadão de corpo inteiro em querer encontrar um fio condutor, um lampejo de estratégia, uma propositura clarividente, em suma, uma garantia de futuro.
Ora, ainda que a esmagadora maioria das preocupações, que, militantemente, não desistem de nos trazer, são com o presente, nenhum de nós, cidadãos, jornalistas, peritos ou políticos poderá ou deverá cruzar os braços e deixar de olhar em frente.
Na verdade, se é legítimo, além de fundamental, que se façam os diagnósticos, nas causas e consequências, da complexa conjuntura internacional, nacional e regional que enfrentamos, não será menos legítimo, antes aparece reforçada, a necessidade de apresentação e constante busca de soluções para os desafios emergentes.
Ou seja, circunscrever um discurso, seja em que contexto for, às causas e consequências e nunca avançar para as soluções e, sobretudo, para as oportunidades que se abrem é ter uma visão coartada, mesmo menor, do papel que cada um pode desempenhar neste projecto colectivo que é viver nos Açores do século XXI. E, neste empenho, tanto se devem destacar as entidades públicas como as privadas. As primeiras, por obrigação, mercê do contrato social legitimado nas urnas, as segundas, porque não se podem esgotar no lucro, reclamando-se-lhes uma consequente responsabilidade social, enquanto parceiro e objecto do desenvolvimento regional.
Por isso, e para descanso da alma, não quero deixar de concluir estas linhas sem apontar dois exemplos, muito recentes, do que podem, e devem, ser as estratégias e as prioridades nos Açores, ao nível da intervenção pública e da dinâmica privada.
A Câmara Municipal da Horta vai estender a rede sem fios a todas as freguesias do concelho, proporcionado o acesso gratuito à Internet para os cerca de 15 mil habitantes da ilha do Faial. Entretanto, algumas Juntas de Freguesia da ilha já começaram a adquirir os equipamentos necessários para instalar a rede wireless.
Vinte e dois projectos disputaram a edição deste ano do Concurso Regional de Empreendedorismo. Em primeiro lugar ficou classificado o projecto “Criolabaçores”, que tem por objectivo a criação do primeiro banco de sangue de cordão umbilical a oferecer colheita, transporte, processamento e isolamento e criopreservação de células estaminais.
Resumindo, e para os que tudo resumem na palavra crise, digo que preocupado ficarei se houver crise de ideias, de estratégias ou de vontades, porque não esqueço que aquele conceito quer significar, também, pela sua etimologia (do grego Krísis), um momento decisivo, uma emergência, um risco, mas, simultaneamente, uma oportunidade…


Ponta Delgada, 10 de Dezembro de 2008