domingo, abril 19, 2009

ANGRA, O MUNICÍPIO FELIZ

Nascido e criado em Ponta Delgada, a residir, por opção, em Angra do Heroísmo, desde 1998, recebo via imprensa a resposta que, há 10 anos, repito, sem cansar, à pergunta “Porquê viver em Angra do Heroísmo?”. Segundo o Estudo do Instituto de Tecnologia Comportamental (1), em parceria com o Semanário SOL, Angra do Heroísmo é o concelho, de Portugal, em que os munícipes mais consideram que vale a pena viver. Evidência para alguns, surpresa para os incautos, terreno fértil para os promotores do “bem comum”, azia para os «profetas da desgraça alheia» e impossibilidade para os cobiçadores militantes da “galinha da vizinha” micaelense…
E só por maledicência ou miopia intelectual não se poderá ver que a importância dessa classificação vai muito além da mera medalha de enfeitar peito, encher boca ou página de jornal. Na verdade, a metodologia científica usada (indicadores objectivos – condições de vida e infra-estruturas disponibilizadas por cada município) e subjectivos (a forma como as populações avaliam essas mesmas condições), tendo por base os estudos efectuados pela Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Trabalho e de Vida – EUROFOUND (2), certificam que o conceito de qualidade de vida sobre o qual se está a trabalhar está, efectivamente, relacionado com a possibilidade das pessoas alcançarem os seus objectivos e escolherem o seu estilo de vida ideal. Ou seja, com o fim primeiro do que devem ser as políticas públicas de planeamento e investimento: a criação de condições de igualdade para o desenvolvimento do projecto de vida de cada um dos cidadãos. Isto é, no limite, a concretização daquele que é o verdadeiro projecto da autonomia democrática.
«Feliz», pois, do autarca que tem dos seus munícipes este retorno de felicidade. «Feliz» porque, de facto, não basta anunciá-lo para o ser. «Feliz» pelo grau máximo de satisfação que lhe é atribuído, mas, sobretudo, «Feliz» pelo desafio público que lhe está implícito: continuar a ser dona do seu destino, sendo, nos anos vindouros, o concelho, de Portugal, em que os munícipes mais consideram que vale a pena viver e em que as pessoas se mostram mais positivas (com optimismo face ao futuro, a satisfação com a vida em geral ou no nível de felicidade), além de procurar ser, de forma criativa, afincada e pressurosa, o concelho que mais evolui na ponderação dos factores objectivos do estudo.
Por isso é que entendo que esta ferramenta - que trabalha domínios tão diversos como: ambiente; urbanismo e habitação; acessibilidades e transportes; ensino e formação; economia e emprego; saúde; cultura e lazer; turismo; felicidade; diversidade e tolerância -, também se pode enquadrar como mais um contributo para a definição das estratégias públicas em matéria de planeamento e investimento nos concelhos da Região. A construção de uns Açores melhores, também passa pelo exemplo desta «Angra Positiva». Angra do Heroísmo, um «Concelho Feliz», de facto!

(1) http://www.intec.com.pt/index.php?option=com_frontpage&Itemid=1
(2) http://europa.eu/scadplus/leg/pt/cha/c11111.htm

Ponta Delgada, 15 de Abril de 2009

domingo, abril 05, 2009

M´ESPANTO ÀS VEZES…

No início foi o verbo. “Foi a Junta Regional dos Açores que lançou as bases experimentais para uma efectiva administração autónoma do arquipélago unificado como região. Fê-lo num esforço de superação das tendências divisionistas decorrentes, além do mais, da já condenada administração distrital, e nessa perspectiva deu corpo à deslocalização das suas vogalias, desdobrando-se por Angra do Heroísmo, Horta e Ponta Delgada, como meio de estimular a solidariedade inter-insular”, e deste testemunho de Álvaro Monjardino (*) sublinho, para o que hoje me traz, as seguintes passagens: o «arquipélago unificado como região», a «superação das tendências divisionistas» o «estimular a solidariedade inter-insular».
Depois, mais de 30 anos de dialéctica progressiva no caldo sociopolítico regional que acolheu a aspiração autonomista e a aspiração desenvolvimentista. Hoje, um quadro político-partidário que ameaça tornar-se numa pobre e podre manifestação maniqueísta entre os que entendem ser um dever e um devir continuar a conjugar solidariedade com autonomia, e sustentabilidade com desenvolvimento, e os que renegam, militante e irresponsavelmente, a solidariedade inter-insular, com fins mediáticos e mediatos de luta e manutenção do e pelo poder, condenando o húmus e a coesão política desta região autónoma.
Assim, acuso esta opção convicta e premeditada, daqueles filhos (bastardos?) do «partido fundador da autonomia», por uma constante degradação do discurso político através da afirmação do seu contexto ilhéu, ou concelhio, de que se arrogam genuína e exclusivamente representar, em contraposição ao dos restantes, valorizando velhas rixas, velhos temores, velhas estratégias. E se no discurso primário de alguns «novos crentes», instalados na demissão irresponsável dos fundadores sociais-democratas terceirenses, se apressaram a cavalgar, demagógica e infantilmente, os «companheiros» do Faial, longe estava de pensar poder algum dia assistir a uma surreal conferência de imprensa reivindicativa da estrutura de Ilha São Miguel ou ao regateio miserável, pelo Deputado do Pico, de critérios comparativos de investimento do Plano Regional fundados na densidade populacional ou geográfica. Tudo isso com o beneplácito do rosto “sebastianista” que replica políticas do passado envernizadas no anacronismo do «mãos à obra», e que se prognostica a um futuro seja ele qual for, seja ele em que contexto for, desde que lhes seja favorável. Nem tudo se explica na orfandade política ou ideológica, ou sequer na «mãe-porca» da democracia político-partidária insular. «Pasmado e duvidoso do que vi/m´espanto às vezes, outras m’avergonho», na espuma dos dias que correm, Sá de Miranda nunca seria tão bem citado. Valer-nos-á este Povo Açoriano?

(*) In “A criação da autonomia regional e as suas instituições”. História dos Açores, Vol, II, pag. 399